24 de fevereiro de 2012

Deixemos Cair Nossas Máscaras

O sermão daquela noite calou no coração do novo convertido. A pastora incentivava os ouvintes a visitarem os excluídos, descamisados e pedintes. As portas do templo estariam abertas para recebê-los. “São pessoas que precisam de nossa atenção, carinho e assistência”. Imitemos Jesus, vamos ao encontro deles – dizia a pregadora.
Enlevado por tão nobre sentimento de amor cristão, o recém-convertido lançou a sua rede. Conversou com homens sem emprego e sem teto, moradores de rua, e os convenceu a visitar a igreja. Ardiam no seu peito as sábias palavras da pastora.
Certa noite, uma hora antes de iniciar o culto, os mendigos chegaram ao templo. Orientados e dirigidos pelo jovem irmão, os visitantes, trajando suas melhores vestes, foram direto para o banheiro. Tomaram um gostoso banho e se deram ao luxo de usar um bom sabonete e toalha limpa. Depois da limpeza do corpo, viria a limpeza espiritual. Ficaram sentados na primeira fila. O novo convertido aguardava ansioso o momento de comunicar a sua obra à pastora. Receberia elogios de seus líderes; os demais irmãos iriam seguir seu exemplo; aqueles homens iriam receber com alegria a Palavra; mudariam de vida; uma comissão seria formada para dar assistência contínua aos excluídos, agora nossos irmãos em Cristo; haveria grande alegria no céu; os anjos diriam amém.
Enquanto sonhava, alguém bateu no seu ombro:
- Olha, meu chapa, vá ver a sujeira que essa gente que você trouxe fez no banheiro! Era o irmão-zelador. E disse mais: - Da próxima vez que trouxer esse pessoal, você mesmo vai limpar tudo!
Essa foi a primeira decepção. A outra foi ver o desconforto que aqueles pobres causaram à congregação. Os visitantes ficaram isolados. Ninguém os cumprimentou. Nem a pastora. Ao contrário, havia um ar de reprovação à presença de pessoas de classe social tão baixa. As senhoras e donzelas, com jóias caras e ricos vestidos, fulminavam os mendigos com olhares furtivos de repugnância. Igual procedimento seria dispensado a um político de terno e gravata que ali estivesse pela primeira vez?
O humilde líder dos miseráveis começou a tremer nas bases. Não estava acreditando. Então, é tudo mentira no Cristianismo? São sepulcros caiados? São todos hipócritas? Não, não pode ser. Vou falar com a pastora. Falou e ouviu:
- Meu irmão, as coisas não são bem assim. Você agora trouxe oito mendigos; amanhã outros virão. Não temos estrutura para isso. É certo que preguei aquele sermão, mas foi em tese.
Como é difícil ser verdadeiro cristão, pois “aquele que diz que está nele também deve andar como Ele andou” (1 Jo 2.6).
Em outro momento, em outra igreja, um irmão mostrou-se insatisfeito com seu trabalho de “evangelizar os pobres”. Segundo ele, “pobre não dá retorno financeiro”. Eis a causa. Melhor é fazermos reuniões com empresários. A estes, afagos, abraços, lisonjas, sorrisos, cumprimentos cordiais. Àqueles, um prato de sopa, uma moeda, um “Deus-te-favoreça”, com que nos livramos temporariamente do peso da consciência.
Tiremos nossas máscaras e, sem vergonha, reflitamos sobre nossa condição de “desgraçado, miserável, pobre, cego e nu”. Os pobres, tanto quanto os ricos, precisam de Cristo. Igreja é lugar de conserto, de renovação, de nova vida, de compaixão, de amor e misericórdia. Que venham todos comer do pão da vida. Venham os sedentos, os tristes, oprimidos e desconsolados, “porque o meu jogo é suave, e o meu fardo é leve”.
Autor: Pr. Airton Evangelista da Costa

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